*Antenor Laurentino Ramos
Fomos a Versailles ver o grandioso palácio real de Luiz XIV. A cidade emenda com Paris, é como se fosse uma espécie de satélite da Capital Francesa. Não se sabe aonde uma começa e termina a outra. Quem vai a esse museu, tem a impressão de que entrou na Máquina do Tempo. Depois de observarmos a ostentação dos soberanos franceses, nenhuma nos causa a Grande Revolução Francesa que culminou com a queda da Bastilha. No lugar da antiga prisão, destinada aos presos políticos, ergue-se hoje uma praça de mesmo nome: Place de la Bastille. Fica no bairro de Vendôme.
A sensação da presença de fatos e de figuras da história desse tempo se faz, muito forte, e a gente, reflexiva, começa a pensar no que foram as orgias e as repressões que cometiam os potentados, opressores do povo. A opressão daquela época, em comparação com a de hoje, fica distante. Versailles é monumental, o palácio parece maior que a cidade toda. Tem mil quartos, há um teatro, o Trianon, exclusivo da família real. Os móveis que a gente encontra são belíssimos e bem acabados, de um passado onde o refinamento era incomparável. Os poderosos de hoje, no Brasil, mesmo com a roubalheira que se tornou comum, entre nós, seriam ralé se estabelecéssemos uma comparação com o que tinha a Realeza de Luiz XIV e de Madame Pompadour.
O apogeu da moda encontrou, nesse soberano, o seu símbolo maior, mostra-se à vista de quem ali chega. Há um salão cujo teto é todo recoberto de uma camada de ouro. O Salão dos Espelhos onde Hitler assistiu “a rendição oficial” da França, deixa-nos espantados. São melhores de esculturas de crianças nas paredes e nenhuma delas em posição igual. A beleza dos jardins, lá fora, cada um deles, a representar um Continente, é de uma graciosidade sem par. Foi a metade do dia para ver tudo isso. Tínhamos que nos apressar, pois seguiríamos, dali a pouco, em direção ao Norte do país. Visitaríamos, ainda, Chartres e a sua bela catedral. A França é o país das catedrais; quase todas elas em estilo gótico. Chaumont, a Cidade do Chocolate! O cheiro da saborosa guloseima já se fazia sentir à entrada de sua rua principal; Tours, todas elas, cenário dos romances de Balzac. Era um reencontro com o grande mestre. O frio é de matar! O termômetro marca dez graus abaixo de zero. Os rios congelados e os pássaros, para espanto nosso, passeiam por cima deles. França e Inglaterra são, talvez, os países da Europa onde grande parte dos castelos primam pela beleza e pela magnificência. Lá está o Castelo de Guise. Ele nos fala de um capítulo sangrento da história francesa, quando os protestantes chamados de huguenotes, foram massacrados pelos católicos dominadores. Quem não recorda a terrível noite de São Bartolomeu? Éramos tempos das lutas religiosas fratricidas. Dela, ouvíamos falar, nas aulas de História, dadas pelo professor Hermógenes no saudoso Ginásio Natal.
E a lembrança da donzela Joana D´Arc chega-nos agora. Lá está Orléans, por ela libertada das mãos dos ingleses. Como o povo francês ama a sua história, a biografia de sua terra! É lamentável que o mesmo não ocorra por aqui! Poderíamos citar, até, milhares de exemplos de descaso com que é tratada a cultura em nosso país. Sua memória é tida em conta como coisa supérflua, porque não rentável monetariamente. As cenas, os lugares, as paisagens,que vimos, guardam-se, para sempre, em nossa memória.
Quem pode esquecer Chartres, aconchegante, com sua linda catedral, cujas torres apontam para o céu, como a querer nos indicar o nosso destino transcendental, o caminho de Deus; Blois e seu castelo onde a rainha passava um bom tempo em repouso; Cheverny, majestoso, morada, onde na Era Medieval ocorreu uma tragédia singular: o senhor feudal, ao tomar conhecimento de que estava sendo traído, em seu leito conjugal, chamou a esposa, e perante toda a família, mandou-a que escolhesse o tipo de morte que queria ter, se apunhalada ou tomar uma taça de vinho envenenada; Chambord, o palácio de verão dos reis, é lindo! E a caça dos javalis, praticada ainda hoje, meio à floresta interminável da região do Loire! Os caçadores, em seus belos cavalos, trajados de branco e vermelho, e os cachorros, enormes, a latir sem cessar! Não é possível esquecer uma viagem como essa! Mesmo que não tenhamos outra chance de lá voltar, já nos basta para enriquecera nossa visão de vida.
O homem, esta é a nossa conclusão, é a realização de Deus, na terra, em seu mais alto grau. Basta apenas ter olhos para ver. Foi o que nos trouxe de ensinamento essa maravilhosa excursão.