* Antenor Laurentino Ramos
Assisti uma missa na Catedral de Notre Dame. De folga das aulas, na Sorbonne, aproveitarávamos, alguns colegas e eu, para melhor sentir as coisas da Cidade Luz. Inesquecível a visão desse templo de Deus! Nele respira-se uma atmosfera de grandeza espiritual e seu gigantismo material reforça mais ainda, essa sensação.
Construída que foi, com tijolos superpostos, na Era Medieval, Notre Dame é o símbolo da eternidade, da infinitude do Criador. É forte a emoção que de nós se apodera! Tudo ali nos diz alguma coisa de magnífico. No seu interior, doze capelas. Poderia, num só momento, celebrar doze missas. O seu órgão é o mais potente do mundo; estremece o recinto com o seu soar.
Todos os domingos, ocorrem concertos com músicas de Bach, Haendel e Claude Debussy. Inúmeros são os fieis que para ali acorrem e, emocionados, rendem Culto ao Senhor.
Tudo muito organizado, em Notre Dame, não é só a religião que nela se sobressai. A história da própria França ali está, retratada. Na porta de entrada da igreja, há quatro telefones contando, todos eles, em Inglês, Francês, Espanhol e Alemão, a história do próprio templo, celebrizado na admirável ficção “O Corcunda de Notre Dame” (Notre Dame de Paris), de Victor Hugo. Temos a impressão de que, uma hora para outra, encontraremos Quasímodo, feioso e disforme, loucamente apaixonado pela bela Esmeralda. Podemos ver, também, as jóias de Catarina de Médicis, a Rainha, guardadas, cuidadosamente, num cofre da Catedral.
No andar de cima, os aposentos de Quasímodo, e nos fundos, embaixo, o Museu da Guerra. Ali são narrados o sofrimento do povo francês e as perseguições de que eram alvos judeus, vítimas do ódio implacável e contumaz dos nazistas e seus asseclas. E ninguém melhor do que os franceses para contar isso!
Povo humilhado, espezinhado, em seus brios de patriota, via seu país à mercê do deboche de guerreiros inimigos, humilhação não maior, graças à resistência desse bravo país, um dos mais cultos da História Moderna, herdeiro da chamada cultura greco-romano, a cultura ocidental. São peças e monumentos que ali se vêem; testemunham o genocídio praticado por Hitler e seus seguidores.
Foi uma aula, ao vivo, a visita que fizemos a Notre Dame. Sinceramente, bem mais valiosa que as teorias que nos eram ministradas no Instituto Para Professores de Frances, na Sorbonne, famosa Escola do Saber de tantas gerações. Valeu a pena, o tempo que dedicamos a conhecer aquele monumento singular. Quem me dera lá pudesse voltar!
Antenor Laurentino Ramos é escritor e professor aposentado.