*Alexsandro Alves
Sempre que ia a consultórios médicos quando jovem, procurava ler as revistas que o consultório dispunha. Eu achava intrigante uma publicação chamada “Caras”. Era uma revista dedicada ao colunismo social brasileiro. Jantares, roupas, tendências da moda disputavam cada espaço das páginas dessa revista. Havia seções para atores globais falarem amenidades refinadas sobre a profissão, que era, mesmo, um desvirtuamento da arte de ser ator, mas claro, dava e dá dinheiro. Cada página possuía mais imagens do que textos.
Mas o que me atraía nessa revista? Não era a vontade de saber como os muito ricos vivem, embora esse universo creme de chantilly tenha sua elegância e suas cavernas de curiosidades. Eu me interessei pela revista por um erro de percurso, digamos, segundo minha visão sobre esta revista. Digamos que encontrei algo nela que, a meu ver, não deveria estar ali.
Na primeira vez em que a vi em um consultório, foi para tratamento de dores no joelho, creio que tinha 25 anos. Estava lá sentado e, durante a espera, procurei algo para fazer. Nesse consultório havia apenas “Caras” e “Quem”, uma revista similar da Editora Globo. Achei estranho que só tivesse esse tipo de publicação, mas era o jeito, peguei um exemplar de “Caras”.
E acabei descobrindo algo que me faria sempre, a partir daquele momento, procurar pela revista, inclusive nas bancas de revistas. Porque eu nem olhava para a mesma nas bancas antes dessa descoberta. E o que descobri?
Havia uma seção de frases em cada edição! Não eram frases de “celebridades” inúteis à moda de Anitta ou de Gusttavo Lima. Eram frases de artistas. Uma página inteira, praticamente apenas com frases e um pequeno desenho em preto e branco central. “Caras” como Machado de Assis, Raquel de Queiroz, Otto Maria Carpeaux, Otto Lara Resende, Lima Barreto, Baudelaire, Virgínia Woof, Sartre, Beauvoir, Mozart, desfilavam em meio aos drinks, aos jantares, aos lugares, aos nomes do “jet set” nacional e internacional.
E foi em uma dessas edições que me encontrei, pela primeira vez, com Rimbaud.
Havia uma estrofe de um poema dele. Fiquei tão fascinado, que algo sempre me dizia que leria Rimbaud novamente em alguma outra edição. E de fato encontrei outra estrofe de outro poema dele meses mais tarde em outro número.
O poema que encontrei primeiramente foi esse:
“Oito dias a pé, as botinas rasgadas
Nas pedras do caminho: em Charleroi arrio.
– No Cabaré-Verde: pedi umas torradas
Na manteiga e presunto, embora meio frio.”
É a primeira estrofe de um soneto. Me marcou tanto, que desde esse dia, há 22 anos, que só como presunto se for com manteiga. E a manteiga está na torrada, no poema, porém eu a passo no presunto. O que me marcou foram as cores, que Rimbaud ao longo do poema evoca, quando fala, mais adiante, em chopp, raio de Sol, mais objetos verdes, presunto rosado.
Não é maravilhoso quando encontramos tesouros em lugares insuspeitos?