*Franklin Jorge
Duas ocorrências recentes, registradas em Natal, delatam a gravidade do pouco caso das autoridades do município e do estado quando o assunto é preservação e defesa do patrimônio público local. Elas não estão nem aí, apesar de explorar e tirar proveito, até a exaustão, das benesses que a cultura prodigaliza a todos os que usam a cultura com esperteza e sem compromissos, a não ser, da autopromoção narcísica.
Na madrugada desta quinta-feira, por exemplo, policiais civis flagraram um homem que se disse ‘’reciclador’’, transportando em uma carroça, para desmanche escultura em bronze, representando a República a oferecer uma coroa de louros a Pedro Velho, criador do estado republicano no Rio Grande do Norte e membro da Junta Governativa que entronizou a República entre nos e foi, posteriormente, nosso primeiro governador republicano.
Pois, na madrugada da última quinta-feira, um dos poucos monumentos escultóricos significativos de Natal, apesar de sua diminuta dimensão, há muitas gerações chantada na Praça Pedro Velho, em Petrópolis, foi vandalizado para ser desmanchado e vendido por um reciclador que se aproveitou do descuido costumeiro das autoridades que sequer fecha a porta depois do roubo materializado. Nem mesmo serviu-lhes de aviso o recentíssimo ataque ao monumento comemorativo do Centenário da Independência, na Praça Sete de Setembro, no Centro histórico de Natal, que foi arremessada de seu pedestal e se despedaçou sobre o calçamento, revelando depois de um século que era do gênero ‘’pau oco’’: de bronze, apenas uma capa para inglês ver… Como se uma reiteração fosse que em Natal, tudo o que envolve questões culturais, reveste-se de artifícios e falsidade.
Resumindo, o fato não serviu para nada. Nem a Secretaria Municipal de Cultura, cujo titular tem se revelado, sob sucessivos governos, uma nulidad, levantou os glúteos da Giroflex para mandar instalar ali e em outros espaços públicos, passíveis da ação de vândalos, câmeras, como uma razoável medida de segurança. Da Fundação José Augusto, então, nem se fala: abandonou a Oficina de Gravura Rossini Quintas Perez, que ainda sob as sucessivas gestões da professora Isaura Amélia Rosado Maia foi-se deteriorando e acabou transformada em sucata e seus implementos, literalmente, jogados no lixo; o mesmo acontecendo com a Casa Grande do Engenho Guaporé, no Ceará-Mirim, completamente vandalizada, apesar das denuncias feitas por um grupo de artistas locais e da visita de um grupo formado de excelências que representavam o Conselho Estadual de Cultura, o Instituto Histórico e Geográfico, a Academia Norte-riograndense de Letras e o Caralho de Asas que tudo viram com os próprios olhos e nada fizeram. crimes de lesa-cultura ignorados até pelo Ministério Público, sempre a dar as caras quando o dano está feito.