*Alexsandro Alves
Não podemos nos enganar: se o catolicismo é a Grande Meretriz do Apocalipse, muitas das igrejas protestantes são suas seguidoras e bebem da taça da ira. Uma nova geração de machos, de varões, tem povoado as igrejas cristãs. Eles usam barba esquisita, à maneira daqueles homens de retratos antigos, frequentam barbearias, usam calças apertadas salientando bem a genitália e se consideram puros acima de qualquer pecado.
Mas também têm uma outra característica em comum: a aversão à mulher.
Eles detestam o feminino. São os red pill cristãos. Mas o que é isso e de que inferno vieram?
Red pill cristão é a mistura da misoginia da machosfera ressentida com partes perturbadas do cristianismo. Eles gostam de fazer cursos sobre manter o pênis ereto por mais tempo, eles gostam de fazer retiros, apenas eles, sem suas esposas, em lugares ermos, distantes da civilização, eles se imaginam cavaleiros templários, castos e puros; eles veem a mulher como princesa e como mãe – não há erotização do corpo feminino, há a imagética masculina sobre o feminino levada à enésima potência do conto de fadas. É insuportável.
E satânico.
Esses cristãos não acreditam no arrependimento de uma mulher. E criticam quando uma mulher não virgem se une à igreja. Já imaginaram? No Brasil, hoje, temos cristãos que negam a eficácia do sangue remidor de Cristo – cristão que não crê no arrependimento. Todavia, isso só vale para as mulheres! Se um homem devasso se torna cristão, é louvado e creditado. Mas a mulher, não. Tudo o que ela fez de lascivo antes é constantemente jogado na cara dela sem muitos rodeios.
Não há verdade na mulher. Nem para iniciar uma nova vida. Nem Cristo é capaz de modificar uma mulher.
Jordana Vucetic, uma influencer, tem sido vítima de ataques virulentos por parte desses cristãos de Satanás desde que se converteu. Muitos youtubers da machosfera ressentida a atacam de forma desmedida, sem controle mesmo, com palavras de puro ódio. Que coisa, hein? Não há escapatória para a mulher!
Esses varões da brotheragem cristã não sabem que o cristianismo só importa a partir da mulher.
Lembremos que o Messias tinha que vir de Davi, ser descendente dele. Ocorre que Jesus é descendente de Davi por Maria e isso não vale para o judaísmo – é, pois, um ponto que entra em conflito com as profecias judaicas sobre o Messias porque a linhagem no judaísmo é masculina e não feminina.
O cristianismo subverteu o judaísmo também nesse ponto, dentre outros. O sangue real de Judá de Jesus não corre por conta de José, seu padrasto, mas por sua mãe, Maria. E novamente, Maria, enquanto mulher e mãe, não interessa para questões de genealogia no judaísmo. Retirando a mulher, Jesus perde sua genealogia real; mas de qualquer forma para o judaísmo ela não vale, pois Jesus não tem antepassado judeu por parte de José e, mesmo que tivesse, a genealogia de José contida em Mateus difere da contida em Marcos, algo que confere um aspecto de descrédito aos relatos: em Mateus, José é filho de Jacó e em Lucas, de Eli. Isso é constrangedor para qualquer judeu coerente.
Mas voltando ao assunto desse novo ressentimento masculino, quem conceberia tamanha afronta teológica? Fazer a misoginia chegar a esse ápice, de negar a eficácia da Salvação para determinado gênero, é um golpe fatal em toda a história do cristianismo – tanto porque nega sua doutrina básica, o arrependimento, quanto por jogar fora a centralidade da importância feminina para essa religião: quem primeiro testemunhou a ressurreição não foi um dos apóstolos, foi uma mulher. Mulher que, aliás, se chamava Maria Madalena, a que era prostituta e se arrependeu.