*Oswaldo Teixeira de Macedo
“Quando Yang Wanming, o embaixador chinês no Brasil, declara que “a parte chinesa repudia veementemente as … palavras” de Eduardo Bolsonaro – que culpou a China pela pandemia do COVID-19 – vem exigir que o deputado brasileiro “as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês”, é preciso que se entenda, antes de mais nada, que o plenipotenciário de Beijing está simplesmente querendo exercer, no nosso Brasil, o poder autocrático que é a prática comum no país que ele aqui representa.
Ao pedir desculpas “à China e ao embaixador pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro” o presidente da Câmara dos Deputados apenas manifesta a mentalidade colonizada, despreparada e provinciana em vigor no Legislativo brasileiro.
Em recente matéria divulgada no site da Fox News – que por razões óbvias não faz parte da grade da “net” – o congressista americano Michael Cloud, do Texas, indicou que “através de uma série de mentiras, equívocos e ocultações, o governo comunista da China intensificou a disseminação do corona vírus. De forma trágica, os Estados Unidos e mais de 130 outros países estão agora lidando com os sérios impactos desta emergência global na saúde e na economia”.
Será que o embaixador chinês em Washington foi exigir desculpas da Nancy Pelosi ou do Mark Pompeo?
O que boa parte dos políticos e jornalistas brasileiros não querem entender é que a China, “o primeiro parceiro comercial e grande investidor do Brasil”, não vai deixar de comprar as matérias primas brasileiras em troca das bugigangas, chips e investimentos que atendem – antes de mais nada – seus próprios interesses.
São eles, os chineses, que necessitam de nós: para comer algo além das baratas, ratos e morcegos produzidos localmente.
O que eles também não querem entender é que o embaixador da China no Brasil é apenas o porta-voz local dos ditames da máquina de propaganda do Partido Comunista chinês, agora empenhado em transformar Xi Jinping de vilão em herói.
Mas o principal que os enfurnados em Brasília não conseguem compreender é que – dadas suas condições ambientais e sanitárias, com milhões de pessoas aglomeradas em megacidades sem condições de higiene e servidas por imensos mercados que vendem animais vivos de todas as espécies – a China é altissimamente vulnerável a futuros surtos epidêmicos!
Em vez de ficar comprando as dores de seu embaixador, os políticos brasileiros deveriam propor algumas ideias para superar a dependência econômica que se construiu ao longo dos anos com a China.
A cadeia de suprimentos que se concentra na China e da qual o mundo inteiro está agora dependendo pode e deve ser quebrada.
Há alternativas – a Índia é uma delas – que devem ser examinadas para que se diversifique a cadeia do mercado global e se quebre o monopólio chinês.
O momento talvez seja este.
Em vez de querer coibir a liberdade de expressão do deputado Eduardo Bolsonaro e fazer o jogo chinês, o presidente da Câmara podia parar para pensar um pouco em nós e ver o que se pode fazer de bom para o país em cujo Governo ele ocupa um papel de tão grande eminência.”