*Nadja Lira
Estamos às vésperas de um ano eleitoral, onde cada município brasileiro vai escolher seu prefeito e os vereadores que irão compor a Câmara Municipal. É justamente neste período em que os políticos iniciam uma verdadeira caça ao voto, de modo que todas as obras que não foram realizadas em quatro anos, são feitas como num passe de mágica. É neste período também, que os representantes do povo abrem a temporada do pão e circo, com o intuito de fazer a população esquecer os benefícios pelos quais paga, mas não recebe.
A prática do pão e circo é antiga. Ela foi criada pelo imperador romano Otávio Augusto, que governou de 27 a.C. até 14 d.C. O projeto consistia no provimento de comida e diversão para o povo, visando reduzir os índices de insatisfação popular contra a ação dos governantes. A ideia visava distribuir alimentos para a população mais pobre, enquanto a diversão ficava a cargo dos espetáculos sangrentos através das lutas travadas entre os gladiadores e as corridas de bigas. Tais embates culminavam em mortes, mas tudo era feito com o objetivo de evitar a revolta do povo e manter o imperador confortável em seu posto, desfrutando dos benefícios oferecidos pelo cargo.
A ideia adotada pelo imperador romano pode parecer antiga, porém está mais viva do que nunca. A temporada de circo em Natal, por exemplo, foi iniciada no último mês de dezembro, quando o prefeito da Capital Potiguar decidiu oferecer vários shows gratuitos à população. No mês de fevereiro houve festejos para todos os gostos e estilos.
Durante a Folia de Momo a prefeitura municipal não economizou verba para alegrar aos foliões. Aliás, é preciso destacar, que o gasto deve ter sido astronômico, uma vez que faltou dinheiro para pagar o reajuste salarial dos professores. É necessário dizer, que a perda salarial desta categoria se arrasta desde a administração desastrosa de Micarla de Sousa e já ultrapassa a casa dos 60%, conforme divulga o Sinte.
O prefeito e a governadora fingem que a questão não lhes diz respeito e os valores devidos aos profissionais da Educação são parcelados em milhares. No final das contas, eles esquecem de pagar e os profissionais precisam recorrer à Justiça para tentar receber aquilo que é seu por direito. E haja tempo e paciência.
Pelo andar da carruagem, este ano de 2023 vai ficar marcado na memória popular, pela quantidade de festas realizadas na Cidade do Sol. No mês de junho, quando se comemoram os festejos em homenagem a São João, as festas foram tantas, que a data passou a ser incorporada no Calendário Festivo da Cidade do Natal.
E se alguém pensa que acabou, está redondamente enganado, porque as festas continuam em pleno final de julho. No Conjunto Pirangi a festa continua na praça contando com a presença de bandas, como Ferro na Boneca, por exemplo.
Nada tenho contra as festas populares. Afinal, elas levam não apenas alegria ao povo, como também contribuem para a propagação da nossa cultura. Porém, é importante destacar que o povo não precisa apenas de circo. Natal é uma cidade que precisa de tudo. Principalmente de segurança pública. A questão é tão séria, que a bandidagem não livra a cara de ninguém: esta semana roubaram o carro de um policial militar.
O circo armado pela Prefeitura do Natal parece ter um poder embriagador, de forma que a população acaba deixando de perceber alguns detalhes, como a iluminação que é reforçada em cada evento. Nas ruas próximas a praça onde a festa do Pirangi foi realizada por um vereador com a aquiescência da prefeitura, existem ruas na mais completa escuridão a vários meses e outras onde as lâmpadas ficam acesas durante o dia. Mas estes problemas, vereadores, prefeito e secretários não veem.
A prefeitura tem o cuidado de colocar iluminação especial nos locais onde realizam o circo para o povo, esquecendo de que o resto do ano as pessoas trafegam por ruas mal iluminadas, ficando expostas às ações de bandidos.
Ao invés de realizar uma festa no Conjunto Pirangi, eu preferiria que a prefeitura e os vereadores de Natal procurassem melhorar a iluminação, a segurança, o serviço de transporte público, e acabasse com as inundações verificadas no bairro depois de cada chuva. Afinal de contas, o povo precisa de muita coisa além da política do pão e circo.