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Volta às aulas ou genocídio de professores idosos?

Professora, poetisa e pedagoga, a professora Adalgisa não é absolutamente fã do prefeito de Natal, que a seu ver  trata os professores de maneira humilhante e sonega-lhes direitos e o alerta para o fato de que a maioria dos professores da Rede Municipal faz parte do grupo de risco, fazendo-nos desconfiar que o decreto de volta às aulas tem intenções genocidas

*Adalgisa Assunção

[email protected]

Confesso que não sou grande fã do prefeito de Natal, Álvaro Dias, pela forma desrespeitosa e arrogante como trata os professores. Especialmente por se negar a pagar o piso salarial da categoria, numa profunda falta de consideração aos profissionais e à lei. Mas, confesso que aplaudi de pé, sua decisão em postergar a retomada das aulas presenciais, previstas para meados de setembro. Ninguém melhor do que um professor para saber que a Prefeitura Municipal jamais vai adequar o ambiente escolar às exigências sanitárias necessárias ao tempo de pandemia no qual estamos vivendo.

Observando a forma desrespeitosa como este prefeito trata a Educação, ninguém tem dúvidas: retornar às aulas nesse momento de incertezas, é condenar à morte um considerável número de professores e funcionários. Não sei se é de conhecimento do prefeito, mas uma grande parcela dos professores da Rede Municipal pertence ao grupo de risco: Têm acima de 60 anos, são hipertensos, diabéticos e portadores de outras mazelas que adquirem pelo exercício da profissão.

Quem conhece muito bem a forma como funcionam as escolas da Rede Pública Municipal, onde falta tudo, inclusive papel higiênico no banheiro das crianças, sabe que dificilmente, a prefeitura vai disponibilizar máscaras e álcool em gel suficientes para que alunos, professores e funcionários de maneira geral, façam a higienização nas mãos, conforme recomendam as autoridades sanitárias.

Fico me perguntando como organizar e fiscalizar a hora do intervalo, já que em um único turno, a escola conta com mais de 400 alunos. Em tempos normais, eles já não obedecem aos professores, imagine agora, que deverão voltar cheios de energia e tédio pelo confinamento ao qual foram submetidos. Em tempo normais, alguns deles chegam à sala de aula sem caderno, lápis, enfim, sem o material escolar, imagine se vão se preocupar com as máscaras.

Também é importante destacar, que os professores da Rede Municipal de Natal têm seus salários pagos em horas e neste cômputo, os 20 minutos do intervalo não entram. Portanto, observar comportamento de aluno durante o intervalo não faz parte das responsabilidades inerentes ao professor.

Na escola onde trabalho, por exemplo, não existem pias em quantidades suficientes para que todos lavem as mãos com a frequência necessária e recomendada pelas autoridades sanitárias. Também fico me perguntando, como é que vamos acomodar as crianças nas salas de aula, construídas para comportarem, em média, 30 a 35 alunos, e ainda respeitando o distanciamento de 1,5m a 2m? Só quem vive o dia-a-dia dentro de uma escola tem capacidade para saber que determinadas ordens, ou determinações, nada mais são do que alguém querendo aparecer.

Como se não bastasse a falta de material didático para o bom exercício da função dos professores, uma boa parte dos prédios nos quais funcionam as escolas, está infestada por pombos, também conhecidos como ratos voadores. A escola onde trabalho é uma delas.

De acordo com os técnicos do Centro de Zoonoses, os pombos transmitem algo em torno de 50 doenças respiratórias catalogadas, além de infecções com a possibilidade de matar humanos contagiados. A inalação da poeira contendo fezes secas de pombos, pode comprometer o pulmão e pode afetar o sistema nervoso central, causando alergias, micose profunda e até meningite subaguda ou crônica.

Isto significa dizer, que os pombos são uma praga e não podem ser abatidos porque contam com a proteção do Ibama. Quem matar um ser humano pode continuar leve, livre, solto e curtindo a vida numa nice. Agora, quem quiser saber o que é bom para tosse, mate um pombo. O crime está previsto na Lei nº 9.605/95, do Código de Defesa Florestal.

A instituição na qual trabalho ainda conta com outro agravante, além dos pombos: A escola é enorme e não tem pessoas em número suficiente para cuidar da limpeza. Logo, não se pode dizer que esta instituição seja exemplo de limpeza. Sem contar que o local é mais do que propício para que os pombos jamais saiam dali: têm comida, partilham a água do bebedouro com os alunos e têm lugar adequado para a sua procriação. Com toda essa mordomia é mais provável os humanos saírem do lugar, do que eles. Com todos estes problemas, penso que o momento, não é o mais adequado para voltar às aulas.